Onde estou agora?
Olhei há pouco para o miúdo. Estava a dormir. Tinha as mãos encostadas à cara e um sono perturbado. Eu tirei um cigarro do maço, um dos poucos que sobram, e pus-me a saborear o doce alívio que ele me trazia. Só naquele momento, é certo.
Há dias que andamos a viajar. A correr. A fugir.
Como se escapa da realidade? No sonho?
O miúdo já nem isso tem. Ontem contou-me uns dos pesadelos recentes. Vi nele o reflexo da marca que a vida lhe deixou.
À noite chorei. Não fui capaz de lhe dar um melhor destino. Como é que um pai, que ama um filho e o quer proteger de tudo, encontra alívio, quando tudo aquilo que aconteceu, foi o que não prometeu no seu primeiro sopro de vida?
Porquê tu? Porque é que um miúdo tão especial como tu, teve de viver esta vida? Saber tão cedo o quão horrível é?
Por mim, já não sinto nada. Há muito que não o faço. Para não encontar na minha pele o cheiro do medo e da repugnância. Já há muito tempo que estou estragada. Há muito tempo que apenas vivo por ele. Porque não consigo ser cobarde e desligar-me de ti.
É neste amor que partilho contigo que acredito. Não aquele que inúmeras vezes me magoou. Me deixou estendida no chão a sangrar. Aquele que explorou o meu corpo e a minha alma. Me deixou vazia tão cedo.
Miúdo. Onde estamos agora?
Talvez o longe possível do passado. Provavelmente a viver. Mas tenho certeza que melhor.
Melhor miúdo. Isso prometo-te.
Deito-me ao teu lado. Já não durmo. Tenho medo que a realidade se aproveite e me apanhe desprevenida no sonho.
Aninho-me a ti e tenho a certeza das minhas forças. Já não durmo.
1 comentário:
Lindo!
É a única palavra que consigo usar =)
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