17 julho 2011

Aveiro: até sempre

“Aveiro, conhecida como a "Veneza de Portugal" é uma cidade portuguesa, capital do Distrito de Aveiro, na região Centro e pertencente à sub-região do Baixo Vouga, com cerca de 55 291 habitantes. Fica situada a cerca de 58km a noroeste de Coimbra e a cerca de 68km a sul do Porto, sendo a principal cidade da sub-região do Baixo Vouga com 398 467 habitantes, a sub-região mais populosa da região Centro e a segunda cidade mais populosa no Centro de Portugal, depois de Coimbra.”


Esta é a definição de Aveiro da wikipedia. Mas há muita coisa que ela não sabe sobre esta cidade.


Não sabe que está quase sempre vento em Aveiro. Que o vento costuma irritar os habitantes de Aveiro. Que não vale a pena tentar andar penteado no verão, ou de guarda chuva no inverno, porque acabamos sempre por ficar desgrenhados, ou com meio chapéu na mão. E muito menos sabe que basta sair de Aveiro por uns tempos para quando voltarmos, percebermos que sentimos saudades daquele vento. Percebermos que sentimos saudades da leveza que costumamos sentir naqueles dias ventosos, do conforto de sermos envolvidos por braços invisíveis, sôfregos de nos agarrar a todo o custo. Percebermos que o vento nos limpa o espírito, aclara as ideias, leva para longe pensamentos que não deviam sequer existir.


A wikipedia não sabe que a estrutura arquitectónica dos passeios de Aveiro é única. A cada 5 metros há um buraco novo. No inverno as leis da física ditam que cada um desses buracos deve ficar inundado. Ora a wikipedia não faz a menor ideia que por causa disso, é impossível manter os pés secos em Aveiro. Mas basta sairmos de Aveiro para percebermos que o objectivo de tentar levar a melhor sobre aquele percurso de obstáculos a que se chama de “passeio”, era o que nos mantinha acordados e alerta todas as manhas, enquanto percorríamos as ruas ventosas de Aveiro.


A wikipédia nem adivinha que em Aveiro as paredes são de papel. Que é possível ouvir as vizinhas de erasmus que moram em frente e os rebeldes que moram no andar de cima. Mas basta sairmos de Aveiro para percebermos que sentimos falta das festas de karaoke de polacas ou húngaras a tentarem cantar numa língua demasiado estranha para elas, ou dos rapazes do andar de cima a tentarem quebrar a monotonia e a mudar o alinhamento dos moveis todas as semanas.


A wikipedia não faz a mínima ideia que basta sair de Aveiro por uns tempos, para percebermos que o nosso lugar é e sempre será ali. No meio do redemoinho de memórias e cheiros tão familiares. No meio de Aveiro



E já agora deixa-me corrigir-te Wiki. Aveiro não tem cerca de 55 291 habitantes. Tem muitos mais. Tem o dobro se contares com todos os estudantes que por lá passaram e que nunca esqueceram aquela cidade, ou com todos os estudantes que lá estão e que não pretendem arredar pé de lá tão cedo. E não, não fica situada a cerca de 58km a noroeste de Coimbra e a cerca de 68km a sul do Porto. Fica situada nos corações de cada um desses estudantes. E já agora, fica a saber que é por isso que para onde quer que eu vá, consigo levar Aveiro sempre comigo. Porque também eu fui um desses estudantes.


Agora percebes que Aveiro é muito mais do que alguma vez podes descrever wikipedia?? Agora percebes, que hoje a única coisa que consigo dizer é um simples “Até sempre Aveiro. Um muito obrigada por tudo”



Se não percebes, um dia experimenta ir até lá. Experimenta viver lá. Experimenta passar lá os melhores 4 anos da tua vida. Experimenta conhecer lá algumas pessoas que se vão acabar por tornar parte da tua família. Experimenta cantar com orgulho e emoção “Aveiro é nosso”. Experimenta, e vais perceber tudo aquilo que eu disse até agora =)

16 julho 2011

a nossa gera...#6




Era instantâneo. Ouviam-se as primeiras notas a sair da televisão e era tudo a arranjar rápido um lugar no sofá. Os velhinhos jogos sem fronteiras, amigos.
Torcíamos por Portugal como se fosse o euro 2004 todas as semanas; havia que ficar melhor classificado que a França e a Itália, mas sobretudo que a Grécia.
Se me referirem Eládio Clímaco tenho de pensar duas vezes – à primeira engano-me e digo que é nome de empresa de ares condicionados –, mas se me disserem que era a voz dos jogos sem fronteiras – ai! – como não havia de saber tão bem! Falava sempre do Manel, do João, da Maria das equipas portuguesas como se se conhecessem realmente há muito tempo quando, na verdade – e quanto muito! – tinha partilhado com eles lugares próximos no avião até ao país da prova.
Sempre achei que éramos os maiores, só não sabíamos apostar o joker na altura certa. E o que mais gostava é que era o tipo de programa que, de tão familiar e fofinho, não permitia que qualquer pai ou mãe mandassem os garotos para a cama. Pelo menos os meus nunca se atreveram. Eu adormecia e acho que nunca via as últimas três provas, mas não ia para a cama mais cedo que isso era para os bebés.


Agora na televisão temos entretenimento que passa por gordinhos a esmifrarem-se em suor e fome. É parecido.