24 fevereiro 2013

Fim da tarde. Inicio de qualquer outra coisa

Inspirei fundo. Deixei que o ar salgado inundasse os meus pulmões. Expirei e voltei a repetir o mesmo ritual. Como se cada lufada daquele ar fosse capaz de limpar todo o meu corpo. Dei um passo. E depois mais outro. Caminhei devagar. Sem pressa de chegar a lado algum. O vento batia-me na cara e a cada passo que dava fustigava-me com uma força que me era bem vinda. Caminhar sem propósito, só com a sensação de que tinha de continuar a andar e vencer a corrente foi o que ocupou a minha mente durante um tempo que pareceu infindável.
Fechei os olhos. A intensidade do vento aumentou. O som do mar revolto que deslizava ao meu lado pareceu subir de volume, e o cheiro a maresia pareceu envolver cada centímetro da minha pele.
E de repente tudo parou. Abri os olhos e vi o que tinha acalmado toda aquela batalha que se desenrolava à minha volta e me mantinha abstraída do resto do mundo.



O céu tinha ganho a cor que anuncia a última réstia de calor do dia. O pôr do sol tinha trazido o silêncio. E com ele veio um único pensamento "Um dia gostava de te trazer aqui. De partilhar isto contigo". E como que a adivinhar que me estava de novo a perder na minha própria mente, o vento voltou e limpou o meu pensamento. Desfez cada traço de tristeza, cobrindo a minha face com as madeixas de cabelo que tinha conseguido soltar e obrigou-me de novo a andar.

 Fiz o caminho de volta acompanhada pela luz que marca o fim do dia...mas que promete sempre o regresso de um outro novo.

20 fevereiro 2013

Era uma vez...


Costumava ter um desejo quase sôfrego por livros. Perdia-me nas páginas de um livro tão facilmente que me esquecia do que realmente me rodeava. Viajava por sítios em que nunca estive, conhecia pessoas de todas as raças e feitios. Mais do que conhecer as personagens principais dos livros que li, durante alguns bocadinhos, eu era essa mesma personagem. Pisava o mesmo chão que elas, sofria o mesmo golpe que elas, alegrava-me com o desfecho feliz que finalmente conseguiam alcançar, como se esse mesmo final me fosse destinado a mim.

Um dia o desejo sôfrego diminuiu. Quase desapareceu. Desculpava-me e dizia que já não tinha tempo. A verdade, percebo-a agora, é que o tempo que me faltava não era para ler as letras amontoadas em cada linha. O tempo era escasso para viver a vida de outras personagens. Estava finalmente a viver o meu próprio conto de fadas e por isso não sentia a mesma necessidade de me aventurar em qualquer outro conto.   
Percebo isso agora, pois quando o meu conto não teve o final que eu esperava voltei-me de novo a embrenhar nas páginas das histórias dos outros. Voltei a deixar-me hipnotizar pelas milhares de letras, que juntas contam a história de alguém que ficará para sempre imortalizado entre uma capa e uma contra capa.

Tinha saudades deste vício. Tenho pena de só ter voltado a procura-lo nestas circunstâncias.
Mas aprendi a minha lição. A partir de hoje passamos a viver em simbiose. Eu e as personagens que vivem entre as páginas do meu vício. Seja qual for a minha própria história.

“I stare down at my shoes, watching as a fine layer of ash settles on the worn leather…..” (The mockinjay. S. Collins)

E de repente também eu vejo as cinzas…mesmo que não seja eu a personagem que está a olhar para os sapatos. E assim começa mais uma aventura…

17 fevereiro 2013

acreditar que é verdade parte II

"E afinal o cabelo cresce, a gripe cura-se, a ferida cicatriza, a noite torna-se dia, o inverno é substituído pelo verão e respiras fundo."

Pensamento de fundo dos próximos dias. Repetir a quantidade de vezes que forem precisas até que volte a ser verdade**

03 fevereiro 2013

Metades

Pensamos que somos o dobro de tudo, duas vezes mais que ontem e duas menos que amanhã.

Mas, no final somos apenas metade de qualquer coisa que já foi.