Inspirei fundo. Deixei que o ar salgado inundasse os meus pulmões. Expirei e voltei a repetir o mesmo ritual. Como se cada lufada daquele ar fosse capaz de limpar todo o meu corpo. Dei um passo. E depois mais outro. Caminhei devagar. Sem pressa de chegar a lado algum. O vento batia-me na cara e a cada passo que dava fustigava-me com uma força que me era bem vinda. Caminhar sem propósito, só com a sensação de que tinha de continuar a andar e vencer a corrente foi o que ocupou a minha mente durante um tempo que pareceu infindável.
Fechei os olhos. A intensidade do vento aumentou. O som do mar revolto que deslizava ao meu lado pareceu subir de volume, e o cheiro a maresia pareceu envolver cada centímetro da minha pele.
E de repente tudo parou. Abri os olhos e vi o que tinha acalmado toda aquela batalha que se desenrolava à minha volta e me mantinha abstraída do resto do mundo.
O céu tinha ganho a cor que anuncia a última réstia de calor do dia. O pôr do sol tinha trazido o silêncio. E com ele veio um único pensamento "Um dia gostava de te trazer aqui. De partilhar isto contigo". E como que a adivinhar que me estava de novo a perder na minha própria mente, o vento voltou e limpou o meu pensamento. Desfez cada traço de tristeza, cobrindo a minha face com as madeixas de cabelo que tinha conseguido soltar e obrigou-me de novo a andar.
Fiz o caminho de volta acompanhada pela luz que marca o fim do dia...mas que promete sempre o regresso de um outro novo.
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