20 fevereiro 2013

Era uma vez...


Costumava ter um desejo quase sôfrego por livros. Perdia-me nas páginas de um livro tão facilmente que me esquecia do que realmente me rodeava. Viajava por sítios em que nunca estive, conhecia pessoas de todas as raças e feitios. Mais do que conhecer as personagens principais dos livros que li, durante alguns bocadinhos, eu era essa mesma personagem. Pisava o mesmo chão que elas, sofria o mesmo golpe que elas, alegrava-me com o desfecho feliz que finalmente conseguiam alcançar, como se esse mesmo final me fosse destinado a mim.

Um dia o desejo sôfrego diminuiu. Quase desapareceu. Desculpava-me e dizia que já não tinha tempo. A verdade, percebo-a agora, é que o tempo que me faltava não era para ler as letras amontoadas em cada linha. O tempo era escasso para viver a vida de outras personagens. Estava finalmente a viver o meu próprio conto de fadas e por isso não sentia a mesma necessidade de me aventurar em qualquer outro conto.   
Percebo isso agora, pois quando o meu conto não teve o final que eu esperava voltei-me de novo a embrenhar nas páginas das histórias dos outros. Voltei a deixar-me hipnotizar pelas milhares de letras, que juntas contam a história de alguém que ficará para sempre imortalizado entre uma capa e uma contra capa.

Tinha saudades deste vício. Tenho pena de só ter voltado a procura-lo nestas circunstâncias.
Mas aprendi a minha lição. A partir de hoje passamos a viver em simbiose. Eu e as personagens que vivem entre as páginas do meu vício. Seja qual for a minha própria história.

“I stare down at my shoes, watching as a fine layer of ash settles on the worn leather…..” (The mockinjay. S. Collins)

E de repente também eu vejo as cinzas…mesmo que não seja eu a personagem que está a olhar para os sapatos. E assim começa mais uma aventura…

2 comentários:

Liadan disse...

Como te percebo AAdagio. Há tanto tempo que não me "dedico" ao meu vício, que é o mesmo que o teu. Não por falta de tempo, mas porque ainda nenhuma personagem de nenhum livro que pego me agarrou de tal maneira que não a conseguisse deixar. Talvez por já ter lido tantas e ainda não ter descoberto a minha própria. Talvez agora ande à procura da minha própria personagem e não a consiga encontrar... Mas farei o mesmo que tu... Tentarei "ler-me" entre de uma qualquer capa e contra capa que encontre ;)

AAdagio disse...

Mudamos tantas coisas..que acabamos por voltar sempre um bocadinho às coisas antigas, para termos a certeza que ainda somos a pessoa que pensávamos ser. E por isso fazes muito bem em voltar a esse teu vicio antigo, e redescobrir-te naquilo que és ;)