Encolho as pernas para cima do
sofá e escondo os pés de forma a estes não passarem dos limites das almofadas.
Estendo o braço a medo para pegar na chávena de leite quente.
As luzes estão apagadas, e aquela porta aberta no fundo da
sala só deixa entrar a sombra e a escuridão do que a vista não consegue
alcançar.
As luzes estão apagadas. Apenas a projecção das imagens no
ecrã transmitem alguma cor e dão contornos às superfícies da sala, à superfície
do meu corpo.
Pego na gata. Deito-me com ela no meu colo. Aconchego-a bem,
para que não fuja. Os gatos eram sagrados no antigo Egipto. Pode ser que
consiga iluminar mais um pouco a sala escura.
Deito-me e assisto ao desenrolar das cenas, ao movimento das
personagens. Sinto o medo delas. Sobressalto-me com elas. Assusto-me por elas.
No final, levanto-me devagar. Não ponho os pés no chão. E se
eles me conseguissem agarrar? Mantenho-me na segurança do sofá. Ponho-me de pé
em cima dele, percorro com o olhar os outros dois sofás individuais.
Procuro-os. E percorro-os para chegar ao interruptor da luz. Consigo
alcançá-lo. Acendo a luz.
Afinal a sala não tinha assim tantas sombras. Falta-lhe
apenas alguma artificialidade para as afastar.
Mesmo assim evito olhar os espelhos. Não se sabe o que eles
podem mostrar.
Nunca a adrenalina do
medo fez tanto sentido!
Sem comentários:
Enviar um comentário