13 setembro 2011

No Escuro

Encolho as pernas para cima do sofá e escondo os pés de forma a estes não passarem dos limites das almofadas.
Estendo o braço a medo para pegar na chávena de leite quente.
As luzes estão apagadas, e aquela porta aberta no fundo da sala só deixa entrar a sombra e a escuridão do que a vista não consegue alcançar.
As luzes estão apagadas. Apenas a projecção das imagens no ecrã transmitem alguma cor e dão contornos às superfícies da sala, à superfície do meu corpo.

Pego na gata. Deito-me com ela no meu colo. Aconchego-a bem, para que não fuja. Os gatos eram sagrados no antigo Egipto. Pode ser que consiga iluminar mais um pouco a sala escura.
Deito-me e assisto ao desenrolar das cenas, ao movimento das personagens. Sinto o medo delas. Sobressalto-me com elas. Assusto-me por elas.
No final, levanto-me devagar. Não ponho os pés no chão. E se eles me conseguissem agarrar? Mantenho-me na segurança do sofá. Ponho-me de pé em cima dele, percorro com o olhar os outros dois sofás individuais. Procuro-os. E percorro-os para chegar ao interruptor da luz. Consigo alcançá-lo. Acendo a luz.

Afinal a sala não tinha assim tantas sombras. Falta-lhe apenas alguma artificialidade para as afastar.
Mesmo assim evito olhar os espelhos. Não se sabe o que eles podem mostrar.

Nunca a adrenalina do medo fez tanto sentido!

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