“Não me lembro”.
Vai ser esta a minha resposta, quando perguntarem a um “eu” muito velhinho como é que conheci aquelas pessoas que aparecem sempre comigo a sorrir nas fotos, com quem me junto tantas vezes, e a quem chamo de família mesmo sem partilhar qualquer pinga de sangue. E essas pessoas vão fazer uma cara de surpresa... Porque não vão compreender como é que se esquece a forma como se conheceu alguém que parece ser tão importante. E depois eu vou explicar que é normal. Vou ensinar-lhes que quando existem pessoas que fazem parte de nós de uma maneira tão especial é impossível imaginar a nossa vida sem elas. Que quando alguém define quem somos, não conseguimos lembrar-nos de como é que éramos antes. Que quando preenchemos um vazio, ninguém quer voltar relembrar a sensação de se ser incompleto. Vou explicar-lhes que sempre conheci aquelas pessoas. Porque elas sempre estiveram destinadas a cruzar-se comigo. Sempre caminharam paralelamente a mim. Sempre estiveram lá…eu é que não as podia ver. Até que um dia, a vida desenhou a esquadria perfeita, traçou um ângulo de 90º graus entre duas linhas e finalmente eles estavam à minha frente. E vou perguntar-lhes “querem saber como foi esse dia? O dia em que vi a cara de cada um deles?” Isso eu lembro-me.
E vou contar-lhes como foi que vos vi. Vou dizer-lhes que todos tinham uma coisa em comum. Todos sorriam para mim. Um sorriso igual àquele que temos em todas as nossas fotos. Um sorriso igual àquele que ainda têm, cada vez que vos vejo. Um sorriso que nunca se esquece!