Hoje proponho-vos a viagem em torno de um bichinho icónico
autocolante e a forma como procedeu à mais maravilhosa lavagem cerebral da
audiência televisiva.
O que vos trago hoje à memória é, claro está, o DOT.
Este simples bocado de cartão com um buraco no meio que se
ganhava através de revistas ou em bombas de gasolina, surgiu, aparentemente
órfão com pedidos lacrimejantes de adopção a que a sensibilidade portuguesa não
foi capaz de resistir.
Depois, como qualquer garoto, começa a pedir mais e mais
coisas e deixa de ser engraçado. E o que queria ele? Que o colássemos no canto
superior direito do nosso ecrã da televisão e o deixássemos ficar assim durante um programa
inteiro da SIC. Nunca se podia mudar de canal, nem no intervalo, porque aparentemente
o bicho perdia poderes e nunca mais recuperava a sua vida.
No final do programa, retirávamo-lo cuidadosamente do ecrã
(que teríamos de limpar a seguir devido à baba autocolante do bichinho) e
colocávamo-lo dentro de um envelopezinho para que, confortável, fizesse pelo
correio a viagem até uma tômbola gigante. Aí, reunia-se com os seus familiares
DOT’s também órfãos e eram sorteados para prémios espectaculares. Não me
recordo, mas ao bom jeito da ressaca dos anos 90, devia ser um apartamento em Mem-Martins.
Um dia decidi colar um DOT durante o Big Show Sic, na
inocência de quem ainda não percebeu que o programa era uma grandessíssima
foleirice com 6 horas de duração. Fui fazer um chichizinho no intervalo – como mandava
o Sr. João Baião – e quando voltei, eis senão quando me apercebo que o meu
progenitor tinha mudado o canal.
Foi a minha primeira depressão. Olhei para o DOT, triste no
seu canto do ecrã, já desprovido de vida; posso jurar que jorrava algo parecido
com lágrimas autocolantes.
A última gota foi quando o meu pai largou um ‘Isso não faz
mal. Volta-se a pôr na SIC e eles nunca sabem que se chegou a mudar de canal’.
Ainda hoje está para confirmar esta teoria. O que é certo é que nunca chegámos
a ter um apartamento em Mem-Martins.